Precisamos falar sobre Mycoplasma genitalium: uma bactéria causadora de corrimento uretral e inflamação do colo uterino que tem se tornado cada dia mais resistente aos antibióticos. Temos atendido muitos pacientes com dor para urinar e corrimento que não melhora. Entenda:
Muitas pessoas procuram o consultório com queixa de corrimento uretral ou dor para urinar. No Brasil, por muito tempo, tratávamos todo mundo com ciprofloxacina e azitromicina. Funcionou por um tempo. Agora não funciona mais.
O gonococo se tornou na maioria das vezes resistente à cipro, e agora o tratamento é com ceftriaxona intramuscula. O mesmo está acontecendo a clamídia, em que a dose única de 1g já não funciona tão bem e consensos recentes já preconizam a doxiciclina.
Um terceiro microorganismo, o Mycoplasma genitalium, já corresponde a 40% dos corrimentos resistentes e tem emergido cada vez mais. Anos de uso de azitromicina dose única trouxe um resultado. Tratava a clamídia mas foi aumentando a resistência do mycoplasma.
E recentemente tivemos o uso indiscriminado de azitromicina na pandemia de Covid que também pode ter trazido algum impacto. O ideal seria ampliar o acesso às tecnologias de diagnóstico por PCR (reação em cadeia de polimerase) em urina primeiro jato e colo uterino, em vez de tratar todo corrimento empiricamente e favorecer a seleção bacteriana.
Mas seguimos firmes, pressionando as autoridades de saúde, os convênios e fortalecendo o SUS. Saúde sexual se faz também com acessibilidade.
Segundo o guia Sanford (guia de antibióticos) o tratamento atual é feito em duas etapas: 7 dias de doxiciclina seguindos por 4 dias de azitromicina (quando for macrolídeo sensível) ou 7 dias de moxifloxacino.
Sempre procure a orientação de um médico e colete um PCR antes. Antibiótico não é brincadeira. Durante o tratamento evite mais exposição sexual, não fique apertando a glande pra ordenhar corrimento para também não gerar uretrite traumática.
No mais fique calmo e procure ajuda. Tem solução!